Um Quintal
Muro caiado, surra da Mãe, balanço de árvore, jabuticabeira, goiabeira, bananeira, chão de terra ou de pedra. Pés descalços, kichute ou havaiana. Campinho de bola, casa na árvore, chuvarada com lama, bom pra horta e os pés de frutas. Cheiro de mato e canto de pássaro.
Varal de arame, roupa secando, bacia de louça, e o sol esquentando. Lençol ‘quarando’, roupa passando, varanda de fundo e o almoço chegando. Parente de fora conversando no quintal. Bolo esfriando, fogo pegando.
Manga no chão, mosca voando, jaca madura, moleque no muro, menina não entra.
Criança crescendo, quintal e vento. Criança chorando, prego no pé. Casa no fundo, rock tocando, cigarro de bucha, cerca. Cachorro latindo, garoto roubando ‘mixirica’ e laranja. Limão cravo, gelo e açúcar, limonada.
Mesa no fundo, almoço rolando. Casório? Noiva chorando. Batizado. Cinta do Pai, correr pro fundo.
Casa sem ninguém, quintal legal. Casa com alguém, quintal ilegal.
Fogão a lenha, tanque de roupa, banho de mangueira, cheiro de fumo - Vô pitando. Noite sem lua, pro quintal não vou. Noite com lua, no quintal estou.
Coisa de interior... Cidade pequena e roça. Nasci com quintal, cresci com quintal, envelheci junto ao quintal. Hoje um quintal sem quintal... É a cidade agitada.
Ricardo ortega
